quarta-feira, 15 de abril de 2015

Nocturno

É zero hora.
Não consigo.
Nem a minha alma dorme na noite em mim.
Não quero fazer nada. Não fazendo faço um exercício incompreensível: próprio da noite.
É zero hora. Encontro êthos passivos nos substantivos inabaláveis duma alquimia que desconheço e volto ao começo: penso e existo e não durmo e não me sou e não estou e não me conheço e quase me perco. Sou transitável, espírito devasso.

Comboio em caudas clandestinas. Subo até ao horizonte, sento-me ao lado da razão. A noite já bêbada, todo resto que me restou. Sou eu mesma, o demónio do devaneio. A substância intáctil da matéria. Já de nada sei. Já aqui não estou...

(Hirondina Joshua - poeta moçambicana)

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