sexta-feira, 31 de julho de 2015

Tambores

Tenho cor de noite
Quem se camufla no dia
é fraco,
Historicamente covarde
Apoiado nas reentrâncias
Dos fios do meu cabelo.

Tenho cor de tronco
Mais grosso e nodoso
Da árvore velha,
Rugosa.

Mãos calejadas
Mostrando ancestralidade
em cada gomo dos meus dedos.

Quer parecer comigo?
Deixe - me presenteá - la
Com as cem chibatadas

Não basta pintar o rosto
Dispenso alegorias
Minha luta é braçal
Todos os dias

É meu corpo
Minha pele
Dilacerados,
Marcados
Mas eu disparo
Sou bala perdida
Que atinge sua cara
Deflagrada da arma
Que você carregava.

(Gonesa Gonçalves)
Quando sou amor, sou maré cheia transbordando sobre pedras.

(Gonesa Gonçalves)

Anfitriã

Não pegue atalhos
No grande caminho
Que é meu corpo.

Vá devagar,
Seu moço.
Cautela pra não se perder.

Chegue na véspera
Deixe que faço a festa
Aproveite até o final

Entre lençóis
Na órbita da minha pele
Na cadência das minhas mãos,
Oásis:
Sou boa anfitriã
Quando o convidado faz o caminho certo.

(Gonesa Gonçalves)

Silêncio

Na sua ausência
Me encontro
Fria, partida
Em estilhaços

O mofo nas paredes
Gritam silenciosamente
A minha angústia

Silêncio, silêncio
Abrindo e fechando a porta
O silêncio incomoda

Te vejo milhares de vezes
Todos os dias
Nos barulhos de carro
Que cruzam essa rua

Mas o quarto
Todo morto da sua ausência
Me avisa
Você não vai cruzar essa porta.

(Gonesa Gonçalves)

Germinação

A fusão entre
Primavera e inverno
Estreita-se de cócoras.

Olhos d'água
Banham as flores
Que brotam
Sob o aroma secundina,
Espalhando pelo jardim
Novas estações.

(Lidiane Ferreira)

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Preto innatura


Se todo dia tem preto e branco,
Mas a manhã e a tarde sempre vêm antes da noite;
Se toda fruta é colhida em cores vivas,
mas vai ficando cada vez mais preta na medida em que apodrece;
E se o dia, quando chove muito, sempre escurece;
Se a cor preta é sempre a dor do luto,
O passado se revela obscuro quando se morre moço
Se o sangue quando se torna negro é sinal de veneno
E é sempre escuro o fundo do poço...
Fui perguntar à mãe natureza:
- Porque, minha mãe, o mais claro sempre em primeiro lugar
E que tudo de ruim tende a ser preto?
Ela diz que é assim mesmo, a lei natural das coisas...
E que, o que de dia é muito belo, à noite é bem perigoso...
Já o preto velho diz que não...
               
                        ***

“Mô fio, o preto da frurta pôde aduba e inriqueurce o solo;
O dia iscuro, que anuncia a forte chuva, resfresca a nossa pele;
O preto do lurto é tomém um sinar de rerpeito;
O sangue tem que tá mermo negro, pegar cor mair forte,
pra alertar, antes da morte, a presença do veneno, etc...
Tú vê, mô fio?”
 - O quê, pai véio?
“Poi veja: o valor e a ordim de cada cor
depende muntio da nossa prórpia nartureza,
Não que seja de negrume ou brancura,
A verdadera beleza, pra mim, era a mistura,
a harmonia, a igardade pura, entre todas ela...”
                         
                      ***

Nunca hei de esquecer
essas palavras que ouvi do preto velho...
Um dia há de acontecer
Isso que ele tanto queria...

(Fábio Cunha)

Enegrecer-se


É o negro que desce nas ruas,
tomadas, lavadas, quebradas...
Preto que corre de dia e de noite
à conquista do pão,
Tomado de consciência,
lavado de resistência,
quebrado da luta,
São as ruas desse negro,
cujo pão é mais que alimento,
é ação!!!!!
É suor que escorre dos olhos,
lacrimeja sua história
e refresca a memória...
Sua conscientização!!!!
Se a realidade é assim tão branca,
o verdadeiro ser negro
é quem há de lhe em-pre-te-cer!
Nesse belo processo até mesmo o branco
pode sim, se enegrescer,
Porque não?!
Pensamento pequeno que se engrandece,
o preto outrora pobre, que se enriquece,
do pão e da essência.
Do Apartheid ao estandarte,
O lutar é coletivo,
Nesse espaço do qual faz parte
Onde tudo é só um motivo
pra lhe calar ciência,
A mais pura arte,
cada vez mais presente
Do ser negro, a vivência,
Do estar negro, a consciência,
Da sua cor, da sua luta, a sua crença,
O mais nobre e insaciável sentimento:
ENEGRESCÊNCIA!!!!

(Fábio Cunha)

sábado, 18 de julho de 2015

Ternura

Quando andamos pelas ruas
Vemos ensurdecedores olhares...

Nossos pés:
Descalços
Afastados
Repugnados
Por alvos sorrisos...

Não queremos mortíferas compaixões!

De mãos dadas
Construímos a nossa própria ternura.

(David Alves Gomes)

sexta-feira, 3 de julho de 2015

REGISTROS DO SARAU ENEGRESCÊNCIA - EDIÇÃO MAIO

Registros do Sarau Enegrescência, edição do dia 23/05/2015. Neste dia estava prevista a presença do escritor Nelson Maca, lançando o seu livro Gramática da Ira. Contudo, por problemas pessoais, o escritor não pôde comparecer, informando que iria agendar uma nova data para participação no nosso sarau.


REGISTROS DO SARAU ENEGRESCÊNCIA - EDIÇÃO ABRIL

Registros da edição do dia 18/04/2015 do Sarau Enegrescência, na Casa de Angola Na Bahia. Além dos recitais poéticos, tivemos a presença da esteticista afro Iachas Camime Machado que bateu um papo sobre a estética afro. Agradecemos à Camime e aos presentes