quarta-feira, 29 de julho de 2015

Preto innatura


Se todo dia tem preto e branco,
Mas a manhã e a tarde sempre vêm antes da noite;
Se toda fruta é colhida em cores vivas,
mas vai ficando cada vez mais preta na medida em que apodrece;
E se o dia, quando chove muito, sempre escurece;
Se a cor preta é sempre a dor do luto,
O passado se revela obscuro quando se morre moço
Se o sangue quando se torna negro é sinal de veneno
E é sempre escuro o fundo do poço...
Fui perguntar à mãe natureza:
- Porque, minha mãe, o mais claro sempre em primeiro lugar
E que tudo de ruim tende a ser preto?
Ela diz que é assim mesmo, a lei natural das coisas...
E que, o que de dia é muito belo, à noite é bem perigoso...
Já o preto velho diz que não...
               
                        ***

“Mô fio, o preto da frurta pôde aduba e inriqueurce o solo;
O dia iscuro, que anuncia a forte chuva, resfresca a nossa pele;
O preto do lurto é tomém um sinar de rerpeito;
O sangue tem que tá mermo negro, pegar cor mair forte,
pra alertar, antes da morte, a presença do veneno, etc...
Tú vê, mô fio?”
 - O quê, pai véio?
“Poi veja: o valor e a ordim de cada cor
depende muntio da nossa prórpia nartureza,
Não que seja de negrume ou brancura,
A verdadera beleza, pra mim, era a mistura,
a harmonia, a igardade pura, entre todas ela...”
                         
                      ***

Nunca hei de esquecer
essas palavras que ouvi do preto velho...
Um dia há de acontecer
Isso que ele tanto queria...

(Fábio Cunha)

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