sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Bângala

Quando vou para o Bângala, onde morou Caymmi,
nasceu Luís Gama
Passo por Santana, Independência e:
Lama desfraldada como flâmula.

Gente, vaga gente, vagas
Pele, ossos, fumaças sem afagos
Entre sucatas e indecências
Contraponto entre Santana e Independência...

Carne, prato exposto, putrefato
Mercado vivo, sociedade de araque
Liberdade, dignidade, só boato
Tudo se resume ao trasgo do crack
Esqueléticas damas, dissolutas
Quase todas negras, é claro
Imagens vagantes, mortas, quixotescas não raro
Vistas apenas como putas
Os outros, catadores, reciclam a vida em alumínio, papel
Breves furtos, todos brincam
Sob a angústia do mesmo céu

Quando vou para o Bângala, meio demente
Onde morou Caymmi, nasceu Luís Gama
Transito nesta irônica antítese - Independência - de tantos
dependentes
E passo pelo quase fim da raça humana.

(José Carlos Limeira - Ogum's Toques Negros: Coletânea Poética, 2014, p. 121)

Nenhum comentário:

Postar um comentário